Eu a olhar para a vida e a vida a olhar para mim. A vida sentada na cadeira de balouço com uns olhos transparentes e que me fixa como se fosse uma espada, não uma carícia mas uma espada que dói dentro do coração.
E eu a olhar para a vida e a pensar: O que estou a fazer de errado? Porque nunca consigo ser igual aos outros, sejam eles quem forem, mas simplesmente igual sem desassossegos de alma e noites em branco?
Que queres tu de mim? Para onde me levas ou porque não me levas para lado nenhum e me deixas para aqui perdida como uma idiota, à deriva, à mercê de tudo e todos e principalmente de mim?
Mas a vida já não me olha. Virou os olhos que são transparentes que apenas reflectiam a minha imagem e nada mais e agora deixou-se ficar, também ela queda a olhar lá para fora, para a ondulação das arvores.
Depois volta a cabeça na minha direcção e abana-a com uma ar de comiseração, de pena, desistência.
Levanta-se e parte.
E eu para aqui fico, com os braços vazios e as mãos cheias de inutilidades que vou apanhando aqui e acolá, talvez eu consiga fugir se me esconder, mas onde?
Ah! Tanta gente feliz que por ai anda sem o saber! Tanta gente que acorda e se levanta da cama e respira, só isso, sem este buraco dentro do corpo!
Para onde foste vida que eu não te consigo seguir?
Luísa Castelo Branco